sexta-feira, 11 de junho de 2010

Coming soon

Em breve pode estar nascendo algo que vai se tornar um livro...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Verbos no Infinito

Um sonetinho para a menina dos meus olhos...

***

Verbos no Infinito

Meu amor, obrigado
Por esse tempo todo ter me dado
Cada vez mais de sua ternura,
Mais do que poderia emanar de uma só figura.

A você darei, sempre, meu amor - e minha gana,
Posto que se este é chama
Nossos corpos se perfarão em lenha
E queimarão, ainda vívidos, para que o amor se mantenha.

Para mim só agora alguns verbos fazem sentido
Quando subitamente chegam aos meus ouvidos
E de fato a eles posso reconhecer:

Sentir, amar, poder, viver.
Que sumam os conflitos
E que se espalhem e ecoem no espaço os verbos no infinito.

Alguma poesia (1)

Coisas lá dos idos de 2006 e 2007, surpreendentemente boas, na minha opinião. Vou pingando aqui de vez em quando.

Do que não está na memória

Eu profetizo o passado
Reescrevo a história
Lembro do que não está na memória
Recebo o que nunca foi dado.

É isso mesmo... Exato!
A invenção é minha glória
Minha vida é uma paródia
E eu acabo pagando o pato.

Eu sou uma novidade antiga,
Uma manchete amarelada.
Sou uma obra de fachada

Não me limito a ser uma página virada
Eu que sei quando o capítulo deve terminar
E ai de quem me disser que a história tem que acabar!

***

Rei do Imponderável
Sou o senhor do imprevisto,
A divina comédia.
Eu sou a enciclopédia,
Sou isto e sou aquilo.

Sou o interminável
Sujeito da minha oração...
Sou um monarca glutão
Sou rei, sou rei do imponderável!

Sou o líder dos bons
E o temor dos maus
Autor da lei do caos
Cantor de todos os tons.

Sou fingidor, mas não sou poeta
Decreto leis, ouviu? Eu decreto!
Comigo não tem conversa, eu berro!
Eu sou rei, não sou profeta.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Canção do Exílio

Colocaram-me uma arma na fronte
E me empurraram para dentro de um avião
Minha vida pela janela, lá longe...
Exilado do meu coração.

Exilei-me da minha casa
Minha família, minha felicidade
Mas de tudo que me foi negado
É de mim mesmo que sinto saudade

Se o que resta é ir embora
Mudar para não ser mudado
Já adianto, não se espante

Não espero mais um instante
E não me farei de rogado
Errado ou não, o tempo é agora.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Sonho de Henrique

Escalou mais muros e superou obstáculos, chegando a uma laje indistinta. Viu então que os homens dirigem para rua aonde mora e, num ato de bravura, ignora a voz ameaçadora do monstro de aço e segue para lá. Os homens que pareciam um só batem e xingam um rapaz conhecido que morava ao lado de casa; os vizinhos se enfurecem e tentam salvá-lo. Lá estavam seu pai, sua mãe e poucos mais em busca de misericórdia para um inocente.

Os apelos são calados por uma rajada de fogo e ódio; o monstro comia gente e conseguiu mais alguns quitutes macabros. Henrique chegou enquanto os homens deixavam a rua. "Os meliantes agrediram a tiros as forças da lei", um deles disse para um repórter, "e depois de encurralarem nossos bravos colegas foram baleados por nós".

"Mas nenhum de vocês se feriu?", interpela o pequenino jornalista. A resposta cínica nunca sairia da mente do menino: "isso mostra que as forças da lei são treinadas para superar qualquer marginal".

A última coisa que viu foi o pai segurando com dificuldade a mão de sua mãe. Ambos se foram, deixando-o sozinho.

Henrique acorda, abre os olhos com dificuldade. O sangue espesso lhe escorre pelo ombro ferido e ele não consegue mais segurar a metralhadora. Dez anos se passaram desde que seus pais se foram e ele dedicou cada dia a agredir e se vingar daquelas pessoas do asfalto que só apareciam para matar e prejudicar seus companheiros de morro.

Sentiu um coturno de couro atingir-lhe o peito e largou o corpo contra o chão. Estava cansado de lutar, de dar murro em ponta de faca como o pai dizia. Não pediu que lhe poupassem, apenas fitou com ódio os olhos do policial que se abaixava à frente e cuspiu-lhe saliva, sangue e mágoa bem no rosto.

Foram três tiros à queima-roupa. Antes de apagar ouviu seu algoz comentar: "o marginal foi ferido depois de agredir as forças da lei a tiros"... Morreu com a certeza de que a sua história, que era de tantos outros, se repetiria todos os dias. O dejà vú coletivo de violência.