Escalou mais muros e superou obstáculos, chegando a uma laje indistinta. Viu então que os homens dirigem para rua aonde mora e, num ato de bravura, ignora a voz ameaçadora do monstro de aço e segue para lá. Os homens que pareciam um só batem e xingam um rapaz conhecido que morava ao lado de casa; os vizinhos se enfurecem e tentam salvá-lo. Lá estavam seu pai, sua mãe e poucos mais em busca de misericórdia para um inocente.
Os apelos são calados por uma rajada de fogo e ódio; o monstro comia gente e conseguiu mais alguns quitutes macabros. Henrique chegou enquanto os homens deixavam a rua. "Os meliantes agrediram a tiros as forças da lei", um deles disse para um repórter, "e depois de encurralarem nossos bravos colegas foram baleados por nós".
"Mas nenhum de vocês se feriu?", interpela o pequenino jornalista. A resposta cínica nunca sairia da mente do menino: "isso mostra que as forças da lei são treinadas para superar qualquer marginal".
A última coisa que viu foi o pai segurando com dificuldade a mão de sua mãe. Ambos se foram, deixando-o sozinho.
Henrique acorda, abre os olhos com dificuldade. O sangue espesso lhe escorre pelo ombro ferido e ele não consegue mais segurar a metralhadora. Dez anos se passaram desde que seus pais se foram e ele dedicou cada dia a agredir e se vingar daquelas pessoas do asfalto que só apareciam para matar e prejudicar seus companheiros de morro.
Sentiu um coturno de couro atingir-lhe o peito e largou o corpo contra o chão. Estava cansado de lutar, de dar murro em ponta de faca como o pai dizia. Não pediu que lhe poupassem, apenas fitou com ódio os olhos do policial que se abaixava à frente e cuspiu-lhe saliva, sangue e mágoa bem no rosto.
Foram três tiros à queima-roupa. Antes de apagar ouviu seu algoz comentar: "o marginal foi ferido depois de agredir as forças da lei a tiros"... Morreu com a certeza de que a sua história, que era de tantos outros, se repetiria todos os dias. O dejà vú coletivo de violência.
Os apelos são calados por uma rajada de fogo e ódio; o monstro comia gente e conseguiu mais alguns quitutes macabros. Henrique chegou enquanto os homens deixavam a rua. "Os meliantes agrediram a tiros as forças da lei", um deles disse para um repórter, "e depois de encurralarem nossos bravos colegas foram baleados por nós".
"Mas nenhum de vocês se feriu?", interpela o pequenino jornalista. A resposta cínica nunca sairia da mente do menino: "isso mostra que as forças da lei são treinadas para superar qualquer marginal".
A última coisa que viu foi o pai segurando com dificuldade a mão de sua mãe. Ambos se foram, deixando-o sozinho.
Henrique acorda, abre os olhos com dificuldade. O sangue espesso lhe escorre pelo ombro ferido e ele não consegue mais segurar a metralhadora. Dez anos se passaram desde que seus pais se foram e ele dedicou cada dia a agredir e se vingar daquelas pessoas do asfalto que só apareciam para matar e prejudicar seus companheiros de morro.
Sentiu um coturno de couro atingir-lhe o peito e largou o corpo contra o chão. Estava cansado de lutar, de dar murro em ponta de faca como o pai dizia. Não pediu que lhe poupassem, apenas fitou com ódio os olhos do policial que se abaixava à frente e cuspiu-lhe saliva, sangue e mágoa bem no rosto.
Foram três tiros à queima-roupa. Antes de apagar ouviu seu algoz comentar: "o marginal foi ferido depois de agredir as forças da lei a tiros"... Morreu com a certeza de que a sua história, que era de tantos outros, se repetiria todos os dias. O dejà vú coletivo de violência.